terça-feira, 17 de julho de 2012

Psicomotricidade Relacional no Hospital Albert Sabin

ACONTECEU: 
OS PRIMEIROS GRUPOS DE PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL DO HOSPITAL ALBERT SABIN. UM BELO PROJETO DE HUMANIZAÇÃO COORDENADO POR PATRÍCIA TÁVORA E PELA DOUTORA TACIANA TRIGUEIRO.









terça-feira, 3 de julho de 2012

terça-feira, 20 de março de 2012

Próximo grupo de ACR
Análise Corporal da Relação
 dias 12,13, 14 e 15 de abril
Com Patrícia Távora

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Da Psicomotricidade Relacional a Análise Corporal da Relação

RESENHA: Da psicomotricidade relacional à análise corporal da relação (2002).

Resenha apresentada pela discente Caroline Moreira de Oliveira ao Curso de Especialização em Psicomotricidade Relacional, Centro Internacional de Análise Relacional, Curitiba, 2010.

O título Da psicomotricidade Relacional à Análise Corporal da Relação: Gênese de uma terapia (2002), vai literalmente de encontro à proposta do livro. Devido a importância da vida profissional do autor e o interesse pela atividade motora sob todos os aspectos, a autobiografia que a obra apresenta nos possibilitando conhecer um pouco de sua trajetória e as vivências reais que o levaram a criação da psicomotricidade relacional.
A partir da demanda, que teve como causa os efeitos resultantes do trabalho de formação de psicomotricistas relacionais, tornou-se eminente a necessidade da criação de outro espaço, cujo objetivo não era mais de formação, mas de um trabalho terapêutico, que se desenvolve em uma ótica psicanalítica freudiana, nomeado como análise corporal da relação, fazendo uma distinção clara entre o ênfoque de cada proposta.
O autor atribui relevância ao conteúdo arraigado no inconsciente individual e coletivo, ao que é transmitido de geração em geração, fazendo um apanhado histórico e cultural do contexto onde estava inserido. Incluindo o dualismo cartesiano e sua influência no status do corpo, dentre elas, a culpabilização do prazer.
Cita o positivismo e cognitivismo como precursores do surgimento das ciências, as quais surtiram efeito na racionalização do corpo enquanto objeto. Dá ênfase a irracionalidade do corpo, justamente por reconhecer que neste há sentimentos, desejos e pulsões que não podem ser apreendidos pelo racionalismo científico.
O criador da psicomotricidade relacional menciona os autores que contribuíram para dar respaldo à criação desta técnica e teoria. Mencionando sua parceria inicial com Bernard Aucouturier e finalmente as divergências que o levaram ao rompimento do trabalho construído inicialmente em conjunto.
Dentre as contribuições de teóricos, cita: Dupré, com o paralelismo do desenvolvimento motor e intelectual; Schilder, estabelece elo entre percepções corporais e organização espaço-temporal; Ajuriaguerra, enfatiza relação entre tônus e afetividade; Wallon, situa a atividade motora como base do desenvolvimento intelectual e psicológico; Piaget, com a epistemologia genética e as filosofias orientais, responsáveis pela abertura de perspectivas sobre as relações entre corpo e psiquismo.
André Lapierre cita o corpo como sendo seu referencial permanente, interessando-se pelas suas dimensões funcional, anatômica, fisiológica, psicológica e então a psíquica, a do corpo vivido, esta última o levou à psicanálise.
A teoria psicanalítica teve um peso significativo para dar suporte à proposta de trabalho de Lapierre, especialmente a freudiana. Muito embora tenha pesquisado outros autores pós-freudianos e também outras escolas psicanalíticas. A partir de teóricos como: Reich, Melanie Klein, Mahler, Spitz, Winnicot, Fromm, Maude Mannoni, Dolto, Lacan, dentre outros, Lapierre encontrou conceitos que permitiram a decodificação e análise do que aparecia nas sessões de psicomotricidade relacional.
Cita os acasos profissionais de sua vida como fato indissociável da gênese desta terapia. André Lapierre iniciou suas atividades profissionais anos 19 anos, como professor de educação física. Logo no início de sua carreira questiona a respeito da forma estereotipada como os exercícios são ensinados, interessando-se pela anatomia e fisiologia do movimento humano.
Utilizando seu conhecimento em biomecânica, recebeu o convite para lesionar na Escola Francesa de Masso-Cinesioterapia. Desta experiência pode reunir material para a publicação de um manuscrito sob o título Reeducação Física. Apesar de diversos contra-tempos para exercer a função de Cinesioterapeuta, esta prática proporcionou ampliação de seu conhecimento a respeito do corpo.
Foi diretor de um Centro de Reeducação, no trabalho com crianças pode reconhecer a expressão da atitude psíquica diante da vida, situando o tônus psicoafetivo e sua relação com o inconsciente, conferindo à morfologia status secundário.
Foi criada a Sociedade Francesa de Educação e Reeducação Psicomotora, onde Lapierre era presidente. Devido a exposição internacional dos congressos e publicações da SFERPM, houve a demanda para a formação na prática da psicomotricidade. Desde o início já se dava devida importância à dimensão prática, chamada de “formação pessoal”, cujo objetivo era a preparação para a relação motora que viriam a desenvolver na relação com o outro.
Considerando que essas atividades lúdicas trazem a tona o imaginário a partir da expressão do incosciente, o autor alerta sobre a importância do envolvimento do adulto como parceiro da criança por meio do jogo simbólico, acompanhando-a no imaginário a medida que favorece a expressão de seus fantasmas e dos sentimentos atrelados a estes. Daí deriva a importância da vivência psíquica do adulto antecedendo à prática, para que não ocorra o risco de projeção de conteúdos próprios na criança.
Anne Lapierre juntou-se ao pai para dar continuidade a pesquisa em psicomotricidade relacional, com a intenção de melhorar a formação pessoal dos psicomotricistas que estavam formando. Para assegurar a continuidade desta formação surgiu a necessidade de uma estruturação do programa.
O autor defendia a idéia de que a psicomotricidade deveria estar acessível a diversas áreas envolvidas diretamente ou indiretamente a dimensão corporal, contudo na França o diploma desta área ficou destinado apenas a uma profissão específica.
Como em seu país de origem a psicomotricidade tinha formação específica e existência legal, ficou resignada a intervir de forma restrita, de forma discordante da proposta por Lapierre. Foi no exterior que em pareceria com sua filha, Anne, encontraram clientela. Ressaltando que a cultura dos países latinos facilitou a forma como receberam sua prática e teoria, divergindo dos países de cultura anglo-saxônica.
A experiência em quinze anos de prática e pesquisa levou a uma estruturação da teoria de acordo com o modelo psicanalítico freudiano, contudo com adaptações e redefinições, tendo em vista as diferenças do setting psicanalítico, divã e poltrona ao enquadramento proposto nas vivências.
Os trabalhos de Wallon e Ajuriaguerra contribuíram para dar respaldo ao que foi identificado como momento de “implicação profunda”, onde ocorre uma modificação no estado de consciência e que não apareceria em uma análise verbal.
Houve todo um trabalho de redimensionalização das vivências, permitindo a liberação das pulsões agressivas em sua expressão primária, corporal; bem como a permissão da expressão simbólica dos desejos sexuais. Ressaltando a importância da ética, a fim de evitar satisfações substitutivas fora do espaço simbólico.
Com a superação de resistências, puderam aprender sobre a importância de assumir as transferências, negativas e positivas, manejando em função do contexto individual, atuando como parceiro simbólico a fim de provocar respostas significativas. Inclusive Lapierre cita a questão das estruturas, revelando ter encontrado personalidades do tipo psicótico, aponta para a possibilidade de desencadeamento de crises emocionais e a responsabilidade daquele que assume os estágios.
Lapierre constatou que as técnicas de análise da atividade espontânea podem adaptar-se para a aplicação à patologia, justifica: “o inconsciente é passível de ser acessado sem a interpretação verbal”.
Inclusive obteve resultados significativos com crianças que ainda não tinham acesso a linguagem, trabalho publicado no livro: O adulto diante da criança de 0 a 3 anos, onde enfatiza que o problema não está na criança, mas no adulto.
Ressalta a importância da formação séria, uma vez que o psicomotricista relacional deve evitar a desestruturação e o trabalho demasiadamente superficial, devendo assumir todos os momentos emocionais, tanto os de grupo quanto individuais.
A partir da prática, a necessidade apontou para a estruturação do curso de formação de psicomotricistas relacionais bem como analistas corporais da relação, inclusive para assegurar a continuidade deste trabalho que tem como instrumento principal a interação espontânea na relação com o outro.
Ao final de sua carreira, dedicou-se ao reconhecimento profissional, apresentando-se em congressos, supervisões e conferências. Reconhecimento obtido fora de seu país de origem, uma vez que na França sua titulação foi recusada pelo Sindicato Nacional dos Praticantes de Psicoterapia.


REFERÊNCIA
LAPIERRE, A. Da psicomotricidade relacional à análise corporal da relação: gênese de uma terapia. Curitiba: UFPR - CIAR, 2002.